sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Um pouco de Teoria - Palavra Poética

A poesia está nas ruas, assim como nas coisas. A poesia está em gestos involuntários. Entre frases obscuras. Na parede das cozinhas. Nos anéis da seiva, no tenteio dos filhotes, nas asas que latejam. Nos resíduos dos amantes, misturados com estrelas. A poesia está nos restos dos dias. Nos silêncios. Pouco percebida, a poesia verte sua secreta alquimia: transfigurar os sinais de menos, as marcas da miséria, o rumor do que poderia ter sido. Resgatar a dança de esperanças perdidas, o frescor das bocas, as mãos em luta amante com a matéria do mundo. Água vital das origens e das utopias, e sede infinita, a poesia está em tudo. No entanto, em paradoxo: a poesia é raríssima. Dificílima. Poucas, raras vezes a poesia emerge da natureza das palavras e transforma-se em poemas. Poucas, raras vezes os verbos e os nomes se fazem a carne absoluta da poesia, som e sentido em unidade mágica que recria o real, inventando-o. Milhares e milhares de versos, para algumas palavras de poesia. Muitas toneladas de matéria-prima-para alguns gramas de poema (Maiakovski).


Necessidade vital: por que tão escassa?


Por um lado, o mistério da emergência do poema, seu nascimento não redutível à consciência lógica nem à intencionalidade do sujeito que poeta. Por outro lado, há poucos instantes possíveis para o florescimento da poesia na história cotidiana.É preciso conviver com os poemas. Andar com eles. Sonhar com seus signos. Ler, reler, não sei quantas vezes. Renascer com suas palavras vivas. Expor-se à sua permanente revolução da linguagem. Deixar-se seduzir por seus cantos.



HÖLDERLIN- foi ignorado por Goethe e exaltado por Nietzsche. Segundo Heidegger, foi um "poeta da poesia", pois acreditava que "o que permanece, fundam-no os poetas.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Do corpo da poesia a poesia do corpo


ou
(a dança do homem primeiro)


dança pássaro guerreiro,
dança que sua pena, pele, é poesia
palavra texto
corpo
símbolo do sagrado
corpo
nu
linha a linha
registro do verso
marcas do tempo
tempo do homem
do corpo
da poesia
deuses
demônios
sons
silêncios

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Sonho

Desperto em outra existência
Sonho
Crio estórias que nunca aconteceram
Vejo as mais belas cenas
E me sinto feliz
Desloco-me para longe
Estou em dois lugares ao mesmo tempo
Reuno duas pessoas em uma

Ou a faço transformar-se em outra
Sou a autora
O sonho é meu invento o enredo
Onde o tempo o espaço
E as atividades do meu corpo
Não tem poder algum
(Márcia Lailin)