domingo, 20 de outubro de 2013

"Encontro Marcado"

 
O poeta, com seu olhar,

capta instantes fotográficos.

Paralisação do tempo.

Momento presente.

Encontro marcado.

Homem e vida.

Saber oculto.

Seu olhar transforma

a ameaça do futuro.
 
No instante preenchido.
 

quarta-feira, 12 de junho de 2013

DEVORAGEM




Assim vejo a mim:
perdida dentro de um homem.
Sedenta de paixão e desejo.

Uma mulher.
Com a boca molhada,
entreaberta para o beijo.

Corpo e movimento.
Pernas e pêlos.
Silêncio e sussurro.

Assim vejo a mim:
perdida dentro de um homem,
mãos e seios.

Querências.
Pulsação e orgasmo.
Na voragem o amanhecer


terça-feira, 21 de maio de 2013

"Não me procures ali"

Não me procures ali
Onde os vivos visitam
Os chamados mortos 
Procura-me
Dentro das grandes águas
Nas praças
Num fogo coração
Entre cavalos, cães
Nos arrozais, no arroio
Ou junto aos pássaros
Ou espelhada
Num outro alguém,
Subindo um duro caminho
Pedra, semente, sal
Passos da vida. procura-me ali.
Viva.    Hilda Hilst                                                                            

Jukuchu-1789

terça-feira, 16 de abril de 2013

Recordantes

Houve uma época em que eu gostava de azeite de oliva. O cheiro, o sabor levemente adocicado, a textura, a maneira suave e lenta como ele escorria pelo vidro, a beleza dos vidros, a cor numa variação entre o amarelo claro-escuro e o âmbar. Eu salivava só de vê-los nas gôndolas ou sobre a mesa. Ainda gosto.Mas não salivo.

Houve outra época em que eu gostava de maças. A vermelha escura, lisa, brilhante, estriada de veremlho carmim com sabor doce, e delicadamente perfumado. Colhê-la com minhas próprias mãos provocava, além de uma intensa salivação, um frenezi na menina que eu, então, era..Ainda gosto. Mas não salivo.

Houve uma época, a mais distante de todas, em que eu era toda sorriso, um sorriso escancarado, largo, meus olhos brilhavam feito duas jabuticabas. Eu abria a janela do meu quarto só para ver o velhinho de barbas brancas, gorro vermleho, botas pretas, que passava nas noites estreladas de Dezembro na rua do meu bairro. E lá do alto eu o chamava - papai, papai Noel e seu olhar calava fundo em mim.

Houve outras épocas, outros gostares.Hoje me são indiferentes azeites, maças, papais nóies e tantos outros sentires.
Feito o poeta, eu que sou poeta menor, também digo:
"Trago dentro do meu coração, 
Como num cofre que se não pode fechar de cheio, 
Todos os lugares onde estive
E tudo isso, que é tanto, é pouco para o que eu quero..."


terça-feira, 26 de março de 2013

ENCONTROS DO EU


 Sou feita de espaços afetivos,
Preenchem-me.
De espaços físicos,
Tranco-me.
Renovo-me.
Pássaro azul, voo largo.
Infinito.

Sou feita de palavras alheias
Versos antigos, novos.
Prosa-poética.
Leio-me.
Sou outra
Sou única, múltipla.
Espaço afetuoso
Encontros do eu.


segunda-feira, 11 de março de 2013

Só isso?


 
Era isso, então?
Era só isso?
Só isso?
Era sim. Só isso:
Chegadas e partidas.

Noites sem fim.
Olhos e bocas.
Pernas e seios.
Mãos e pelos.
Desejos.

Era isso então?
Só isso?
Nada mais? Nada?
So só só isso isso.
Desejos.

Na gaveta da memória
teu corpo e minha paixão.
Era tudo isso.
Era isso.
Muito isso.


sábado, 9 de março de 2013

É teu dia sempre, mulher




O fio que te enlaça os dedos quando, na presa, queres prender os cabelos. É o mesmo que envolve tua cintura? Que aperta teus seios? Que amarra teus pés? Que prende tua forma? Esse fio que te aperta, que tira teu ar, que te impede de livre caminhar. É o presente ganho?

Palavras sussurradas, ditas em teus ouvidos. Olhares amarrados, enviessados, sorrisos adiados. Contrariedades que congelam teu pescoço.  Por fim são teus dias mal vividos. Tuas concessões. Feitas aqui e ali.  E são tuas amarras, mulher. Liberta-te antes que o dia termine e o tempo passe.



quinta-feira, 7 de março de 2013

Mulher (es)



É a cor
A forma
O movimento
O som e o silêncio

Mulher(es)
Palavra dita
Não dita
Bendita
Bem dita

Marias, Rosas, Joanas...
Lispector, Hilst, Luft....
Tantos nomes
Flutuam em minha mente
Movem o meu ser
Cumplicidade
Idas e vindas
Cá dentro travessia




quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

De pontos e pontas




A cadeira ficava na varanda. E mal começava a bordar Firmina sentava ao seu lado. Não que não gostasse da sua companhia, ao contrário, mas de uns tempos pra cá ela deu de contar a mesma estória. E em alguns trechos,percebendo que Rosalba estava longe com suas linhas e cores, dizia: —Alba você está meouvindo? E uma bela estória, vai gostar. Sim, sim Firmina. Continue, por favor. Porque será que reagia dessa maneira. Desde menina nunca fez prevalecer sua vontade. Sempre cordata. Tinha a sensação que sua vida toda se resumia em apenas dizer sim, sim. Qual ponto deseja nessa toalha, Firmina?  O ponto cruz é tão lindo. A vida lhe negou ou ela não soube escolher. Já não sabia e isso era o que mais pesava o descobrir-se perdida, sem forças para viver. E para completar o quadro a Figura carismática de Firmina. Sempre altiva. Quando não queria conversar deixava isso claro. Vou me retirar, hoje, não estou pra prosa. Boa noite, Alba.  Esse fato também pesava. A generosidade de Firmina, sua alegria, seu ser singular e exótico. E noite após noite parada na ponta da escada antes de entrar no quarto, virava-se para Rosalba, parecia até que fazia de propósito, olhava profundamente nos olhos dela e dizia: — Mas um dia se foi Rosalba, amanhã você borda mais.

Em que momento Rosalva ficou assim? Qual acontecimento desencadeou esse sentir, essa desconfiança em relação ao carinho de sua irmã Firmina. Impossível sabê-lo?  Talvez, uma coisinha aqui outra ali. Palavras ditas não ditas.  Distancia encantatória entre o sentir e o dizer.  E de equívocos em equívocos foi nascendo esse resentimento.  Alba é nada. É um corpo adormecido. Já não sorri, não vibra.  Em sua matutagem enxerga uma Firmina que não existe, ou melhor, existe em sua mente. E o brilho do olhar de Firmina é como um acoite para ela. Mas nem sempre foi assim, houve outros tempos. Momentos da infância quando ambas rindo corriam para a praça ver o teatro chegar. Eram noites de muita alegria quando assistiam ao espetáculo. Alba vibrava com a bailarina, com seus sapatos prateados o corpo a girar, girar lentamente. Firmina só voltou muito tempo depois, aposentada do teatro, trouxe de presente  para Alba sua maior relíquia— as sapatilhas prateadas.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Noite finda





É o preto no branco

É a cor na cor

É a forma.

É o movimento

É o som

E o silencio.

É o corpo no corpo

É o fogo, o mel, o beijo

Despertar de vida

Na noite finda

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Nos trilhos


É sempre a partida
O caminho
O encontro
     O desencontro

É sempre a palavra
O sussurro
O dito
O não dito

É sempre a lembrança
A saudade
O lábio no lábio
O aperto

É sempre essa dor no peito
O apito
Meu grito
Um nome


sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Que importa agora?


Que importa agora?
O lugar
A hora
O ano
Como era mesmo  seu  nome?
A rua 
o bairro
Tudo findo

Que importa agora?
A casa
A cama
O  pano branco
 a cesta coberta

Líquido quente
por entre seus dedos
E a polpa escorrendo
O corpo gemendo
As frutas, os lábios
O corpo molhado

Que importa agora?