segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

"Quadros da mente"

Da janela do meu quarto avisto,
como num quadro,
variadas cores
que pouco distinguo
entre o rosa e o creme.
São casas próximas
com varandas, cadeiras,
vasos, flores,
às vezes, alguém lendo.
O que será que lê esse sujeito que não conheço.
Que mora duas quadras da minha janela
O que sente ou nem sente
O que percebe?
O que sabe da vida?
Do mundo?
De mim?

Clic! Abro outra janela.
Esse sujeito eu conheço.
Conheço?
Quem o saberá?
Eu? Ele?
O que sente?
Eu? Ele?
O que sabe da vida?
Do mundo?
De mim?
Não sabe, não sei.
São cores de um quadro.
Quadros da mente.
Mente que mente
Leitura, flores, varandas.
Clic! Desligo.


terça-feira, 21 de dezembro de 2010

"A esquina estava lotada"

A esquina estava lotada era véspera de natal.
Uma mulher maltrapilha pedia com a mão estendida.
Seu nome era Maria.
Junto,um homem dormia alheio ao barulho impiedoso do mundo.
Seu nome era José.
Ouve-se um grito:-
Ladrão!
Uma criança corre com um relógio na mão.
Derrepente, um freio.
Um menino morto.
Seu nome era Jesus.
A mulher olhava para aquela triste manjedoura.
Não havia vacas, só ratos.
Não havia estrelas, só a luz giratória da polícia.
Não havia reis.
Só homens com pressa, alheios a tudo”.

Tarcísio Regueira nasceu em Pernambuco no ano de 1956. Atuando há 25 anos como radialista, criou vários projetos culturais, como o Poesia Circulante, que levou poesia aos ônibus do Recife. É também escritor, publicou o livro de poemas intitulado “Pão de Vidro”.


poesia apresentada no programa 495- PROVOCAÇÕES
TV CULTURA

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Navalha Cortante

Vem, não devagar
como a noite no fim do dia,
lua apagando o brilho do sol.
Vem, com força feito
cobra rastejando pelo mato,
gata gritando no cio,
tigre no pulo da presa.

Navalha cortante
cravada em minhas costas.

Vem, sem medo,
sem fantasia,
sem mentiras
Que eu espero pronta.
Feito um rio de lavas
Feito um índio em guerra
Feito um titã

Navalha cortante
Cravada em tuas costas.



quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Torpor

O tempo nos devora.
Nada é igual
Ao torpor desses trôpegos dias.
Andarilhos
Solitários a perambular
Trajetória efêmera.