segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Prosa-poética: "Um mundo pequeno"

 
Richard Emil Miller

Apanhar ela não apanhava não. Mas era como se todos os dias tivesse levado uma surra. Chicote mesmo. Não que conhecesse no próprio corpo tamanha crueldade dos homens. É que aprendera a ler. Sabia dessas e outras malvadezas na história do mundo, na vida dos povos.


Um mundo pequeno esse — pensava. Não muito diferente do seu. Porque se a violência não vinha mediante a força bruta à dor era infinita. A dor de cada palavra dita.  O estalido que provocava no fundo de seu ouvido, feito o som do vento nas noites frias do sertão, além de deixá-la sem ação, era como um acoite em seu coração.  


Ele, o falador, nem percebia sua boca trêmula, às vezes uma lágrima furtiva, pois ela calada sofria. Dia após dia. Noite após noite. E na sua infinita tristeza — escrevia. Escrevia... Escrevia... Escrevia...   No começo, algumas poucas palavras um quase desabafo e depois uns versinhos, por fim estórias inteiras.
E de estórias ela vivia.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Ruminando Vagarezas


Olho a distância
Não a paisagem
Com suas árvores
Planaltos e planícies
Não o boi no pasto
Ruminando vagarezas.
Não a água, o sal ,o mar

Mas a distância encantatória
Entre o sentir e o dizer
Como a faca no peito
Falta-me o ar
Mas não há faca
Não há peito
Somente distâncias

sábado, 15 de outubro de 2011

Em profusão


Não há desencanto
Não há resignação
Apenas um balanço
Um olhar para trás
Um olhar para frente
Ir e vir
Dias de arar a terra
Comer o fruto
Dividir o pão.
Noites de acalantos
De sonhos e ilusão
Um ano qualquer
Uma luta qualquer
A vida em profusão.

domingo, 2 de outubro de 2011

"Encontros do eu"

Sou feita de espaços afetivos,
preenchem-me.
de espaçoas físicos,
tranco-me.
renovo-me.
Pássaro azul, vôo largo
Infinito.


Sou feita de palavras alheias
versos antigos, novos.
prosa-poética.
leio-me.
sou outra
sou única, múltipla.
espaço afetuoso
encontros do eu.