Richard Emil Miller
Apanhar ela não apanhava não. Mas era como se todos os dias tivesse levado uma surra. Chicote mesmo. Não que conhecesse no próprio corpo tamanha crueldade dos homens. É que aprendera a ler. Sabia dessas e outras malvadezas na história do mundo, na vida dos povos.
Um mundo pequeno esse — pensava. Não muito diferente do seu. Porque se a violência não vinha mediante a força bruta à dor era infinita. A dor de cada palavra dita. O estalido que provocava no fundo de seu ouvido, feito o som do vento nas noites frias do sertão, além de deixá-la sem ação, era como um acoite em seu coração.
Ele, o falador, nem percebia sua boca trêmula, às vezes uma lágrima furtiva, pois ela calada sofria. Dia após dia. Noite após noite. E na sua infinita tristeza — escrevia. Escrevia... Escrevia... Escrevia... No começo, algumas poucas palavras um quase desabafo e depois uns versinhos, por fim estórias inteiras.
E de estórias ela vivia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário